Profissão: mãe

03-10-2015 20:58

Tal como foi noticiado há poucos dias, a Ordem dos Médicos vai propor ao Parlamento uma alteração à lei da amamentação que permita que todas as mães tenham direito a redução de duas horas do horário de trabalho até aos filhos terem três anos.

Depois dos polémicos casos de mulheres forçadas a fazer prova de amamentação e tendo em conta a necessidade de incentivar a natalidade, o bastonário da Ordem enviou a todos os grupos parlamentares uma carta em que sugere dispensa para amamentação até aos três anos dos bebés, independentemente de as mulheres amamentarem ou não.

Face a esta notícia e de forma a reforçar a importância da mãe no desenvolvimento da criança, dedico esta crónica a abordar o tema: relação materna.

O impulso natural materno apela a que se coloque a cria debaixo da asa, protegida de todos os perigos, ameaças, medos e desgostos.

Normalmente, é esta a tendência inata e ao mesmo tempo natural. Mas afinal, até onde vão os nossos limites enquanto mães, quando, na condição de mães procuramos ser boas mães e super-mães ao mesmo tempo?

Uma boa mãe é também aquela que a determinada altura passa a ser “desnecessária”. Como diz um célebre psicanalista, ser “desnecessária” é não deixar que o amor incondicional de mãe promova uma dependência patológica nos filhos, como uma droga ao ponto de eles não conseguirem ser autónomos, confiantes e independentes, capazes de traçar o seu rumo e de fazer as suas escolhas, superar as frustrações e, naturalmente, cometer os próprios erros também.

É crucial reconhecer que ao longo de cada fase da vida, do crescimento e, naturalmente, do desenvolvimento humano, é importante que o cordão umbilical se vá cortando. A cada uma dessas fases, estão associadas perdas e novas conquistas que não param de se transformar.

Ser mãe é ser também capaz de passar os valores que apelam ao crescimento saudável, é ser capaz de aceitar as próprias limitações para que um dia os filhos se tornem adultos e saibam, também eles, constituir família e recomeçar o novo ciclo.

Por fim, o importante, o mais importante de tudo, é estar presente, ser firme, na concordância e na discórdia, no sucesso e no fracasso, é esperar de peito aberto para o aconchego e para o abraço apertado, sabendo dar o conforto nas horas difíceis e o elogio no momento certo. 

Os filhos ganham asas e cabe-nos aceitar. Para isso, nada melhor que saborear na hora da partida a sensação reconfortante de que a missão foi cumprida. É sinal que o trabalho de profissão-de-mãe foi bem feito.

Procurar na página

Contacto

Ana Cardoso LISBOA
Clínica Gémeos
Avenida Conde Valbom, 82, 1º Dt.º

SETÚBAL
Consultório de Saúde Mental
Avenida 5 de Outubro, 47, 4º Dt.º
916 286 042