Pessoas difíceis

03-10-2015 21:02

As perturbações da personalidade, têm sido objeto nos últimos anos de uma especial atenção por parte dos técnicos que trabalham em saúde mental.

Escapando à dicotomia clássica neurose/psicose em que se dividiam as doenças mentais, as pessoas com perturbações da personalidade apresentam quadros multiformes com os quais os clínicos têm dificuldade em lidar.

Normalmente estas pessoas são vistas pelos clínicos como ‘doentes difíceis’, visto que a sua forma de funcionar e de lidar com o que lhes rodeia é resultado de uma disfuncionalidade associada ao tipo de comportamentos e de atitudes que praticam.

Com efeito, as suas características disfuncionais seja, “por excesso”, tais como agressividade, manipulação, impulsividade ou passagem ao ato, seja, por “defeito”, como dependência, isolamento, restrição emocional, etc. implicam dificuldades relacionais aos níveis profissional, familiar, social e também na relação clínica.

Neste tipo de situações, ocorre com frequência uma passagem sucessiva por múltiplos técnicos: do clínico geral ao psiquiatra, do psicólogo ao psicopedagogo, o que provoca com que a evolução clínica esteja comprometida e a evolução natural destes doentes seja um constante desafio para os técnicos que os acompanham.

Contudo, nem todos os profissionais de saúde encaram o tratamento de uma pessoa com perturbação da personalidade como um desafio, visto que, o cuidar de alguém que sofre deste tipo de patologia pode representar uma frustração enorme devido ao facto destes doentes não reconhecerem que precisam de ajuda, nem tão pouco serem capazes de avaliar as consequências dos seus atos, com todos os prejuízos daí resultantes, tais como: sofrimento individual e familiar, elevados custos decorrentes do consumo excessivo de cuidados de saúde, absentismo laboral, abuso de substâncias, problemas com a justiça, etc.

As pessoas com alterações da personalidade, como foi referido anteriormente, não têm, geralmente, consciência de que o seu comportamento ou os seus padrões de pensamento são desadequados; pelo contrário, muitas vezes pensam que os seus padrões são normais e correctos. Frequentemente, são os próprios familiares que procuram ajuda visto que sozinhos se consideram incapazes para lidar com situações que, na maior parte dos casos, persistem no tempo desde há muito tempo. É, por isso, frequente ouvir dos familiares expressões como esta: “ele sempre foi assim”; ou “por muito que eu lhe diga não há nada que mude o seu comportamento”.

Os desabafos da parte dos familiares são, por isso, muitas vezes coincidentes com a frustração dos clínicos, na medida em que se torna impossível ajudar alguém que não reconhece a necessidade de ajuda.

Por esse motivo, considera-se que vale a pena unir esforços na tentativa de procurar oferecer uma resposta terapêutica adequada que integre várias valências e que possibilite também centrar-se nas dificuldades dos familiares.

A intervenção, dirigida ao doente, deverá incidir sobre os seguintes objectivos: auxiliar a pessoa a planear um projeto de vida, prevenção de comportamento de riscos, identificação de situações indutoras de stress e promoção da adesão ao tratamento.

É unânime a visão de que, neste tipo de distúrbios, a medicação acaba por não ter o papel mais importante e que são as intervenções psicossociais aquelas em que o foco terapêutico deverá incidir.

Procurar na página

Contacto

Ana Cardoso 916 286 042 (Chamada para a rede móvel nacional)